Membros da equipa de restauro e conservação que estiveram a trabalhar na Charola explicam o que esta significa para eles.
O visitante Nuno da Mata Almeida ficou ainda com dúvidas acerca da deterioração da Charola do Convento de Cristo:
"(...) Qual o principal (ou principais...) factor(es) da deterioração das pinturas ao longo do tempo, que implicou as sucessivas intervenções?"
Se num caso, o tramo 16, podemos verificar a presença de sais cristalizados à superfície da pintura/camada cromática - o tramo 16 fica por cima do arco triunfal, local de junção da estrutura da charola com o novo corpo da Igreja/nave, logo um local passível de infiltrações, já resolvidas - nos restantes tramos podemos eleger como principais factores de deterioração o suporte pétreo das pinturas e a intervençao humana.
Repare que na maior parte das pinturas a presença de lacunas da camada cromática não é expressiva no entanto os repintes dissonantes com materiais imcompatíveis são bastante presentes.
Além de uma normal camada superficial de sujidades e poeiras podemos dizer que o homem é o grande responsável pelo estado actual de parte das pinturas - as que ainda não foram intervencionadas, claro está!
As tentativas de anular pequenas lacunas repintando, de alterar o aspecto de certas zonas caiando, de dar ao conjunto maior força expressiva aplicando vernizes...
Aguardamos mais dúvidas.
Já anteriormente explicámos o que é um Guadamecil. Desta vez Lina Falcão, uma conservadora restauradora, fala em pormenor de um guadamecil existente na Charola do Convento de Cristo.
Nuno da Mata Almeida, visitante do blog, comentou no post anterior:
«Em primeiro lugar, parabéns pelo excelente trabalho!
O restauro que é feito directamente sobre a pedra, tem uma durabilidade de quanto tempo?
A minha pergunta prende-se pelo facto de a cidade de Tomar ser extremamente húmida no Inverno, e do facto de o trabalho ser realizado directamente na pedra, que não é propriamente o material mais permeável à condensação.»
Relativamente à durabilidade é impossível dar-lhe uma resposta exacta.
Sendo a pintura da Charola executada directamente (ainda podemos usar o adorável c, é aproveitar) sobre a pedra nunca poderíamos, na nossa intervenção, alterar tal facto. Mas apesar da humidade que refere, que é real e facilmente sentida, tal não é factor determinante na conservação das pinturas.
A Charola, devido a uma grande inteligência construtiva, apresenta sempre uma temperatura constante de 21/ 22 graus centígrados. Durante a nossa intervenção realizámos um controle constante da temperatura e humidade da área intervencionada e confirmámos tal dados – a humidade varia consoante as alterações atmosféricas mas a temperatura é constante. Ambas são insensíveis à nossa presença, que chegou a ser de 16 pessoas mais a enorme estrutura de andaimes, assim como aos pontos de luz, de 500 W, necessários à execução do trabalho.
Estando a pintura ambientada a tal situação grave seria a abolição total da humidade.
Talvez tenha visto o Roma do Fellini. Há aí uma cena que, apesar da rapidez cinematográfica, ilustra bem a consequência de uma rápida alteração atmosférica sobra as pinturas murais – é quando, durante a construção do metro, são descobertas pinturas murais romanas que rapidamente adquirem um véu branco quando expostas, isto é, quando lhes é alterado o seu ambiente natural.
Espero que continue a visitar o nosso blog e, principalmente, que visite a Charola.
Apesar desta fase do restauro ter terminado, continuamos a recolher materiais e informações sobre a Charola.
Desta vez divulgamos um vídeo que explica em pormenor o tramo 16.
Título: " Tramo 16, o antes e o depois"
Realização: Maria Cristina Antunes